Capítulo 16
O sexto planeta era um planeta dez vezes maior.
Vivia lá um senhor de idade que escrevia uns livros enormes.
- Olha! Cá temos um explorador! - exclamou ele, quando avistou o principezinho.
O principezinho sentou-se em cima da mesa para tomar folego. Já viajara tanto!
- De onde é que tu vens? - perguntou-lhe o senhor de idade.
- Que livro é este, tão grande? - perguntou o principezinho - O que é que o senhor está aqui a fazer?
- Sou geógrafo - respondeu o senhor de idade.
- E o que é um geógrafo?
- É um cientista que sabe onde ficam os mares, os rios, as cidades, as montanhas e os desertos.
- Mas que interessante! - disse o principezinho. - Isto, sim, é uma profissão! - E pôs-se a olhar à volta. É que nunca tinha visto um planeta tão majestoso.
- É bem bonito, o seu planeta. Há cá mares?
- Não faço ideia - respondeu o geógrafo.
- Ah! -o principezinho sentiu-se muito desiludido. - E montanhas?
- Não faço ideia - respondeu o geógrafo.
- E cidades e rios e desertos?
- Também não faço ideia - respondeu o geógrafo.
- Mas o senhor é geógrafo!
- Pois sou - disse o geógrafo - mas não sou explorador.
Tenho uma falta absoluta de exploradores. Porque não é o geógrafo que há-de ir à procura de cidades, de rios, de montanhas, de mares, de oceanos e de desertos. O geógrafo é importante demais para andar por aí a vadiar. Nunca sai do seu gabinete. Este serve-lhe é para receber os exploradores. Faz-lhes perguntas e toma nota do que eles dizem. E se o que um deles lhe conta lhe parece interessante, o geógrafo manda fazer um inquérito à sua moralidade.
- Mas porquê?
- Porque um explorador que mentisse desencadearia autênticas catástrofes nos livros de geografia. Assim como um explorador que bebesse demais.
- Mas porquê? - perguntou o principezinho.
- Porque os bêbedos vêem a dobrar e assim, por exemplo, o geógrafo assinalava a existência de duas montanhas quando, na realidade, só haveria uma.
- Conheço uma pessoa que havia de ser um péssimo explorador - disse então o principezinho.
- É bem possível. Mas, continuando: quando a moralidade do explorador parece boa, então, manda-se fazer um inquérito à descoberta dele.
- Vão lá ver se é verdade?
- Não, era complicado de mais. Exige-se é ao explorador que apresente provas. Por exemplo, se ele tiver descoberto uma montanha enorme, exige-se-lhe que apresente como prova uns calhaus enormes.
De repente, o geógrafo ficou todo excitado.
- Mas tu, tu vieste de muito longe! És um explorador! Anda, descreve-me o teu planeta!
E, tendo aberto o livro de registos, o geógrafo, pôs-se a afiar o lápis. As descobertas dos exploradores, primeiro, são anotadas a lápis. Só depois de o explorador apresentar as suas provas é que são passadas a tinta.
- Então, quando é que começas? - perguntou o geógrafo.
- Oh! Lá, onde eu vivo, não há grande coisa. É um sítio muito pequenino. Tenho três vulcões. Dois vulcões em actividade e um vulcão extinto. Mas nunca se sabe...
- Pois não, nunca se sabe... - corroborou o geógrafo.
- Também tenho uma flor.
- As flores, não as assinalamos - disse o geógrafo.
- Porquê? É o mais bonito de tudo!
- Porque as flores são efémeras.
- E o que é que "efémero" quer dizer?
- As geografias - respondeu o geógrafo - são os livros mais preciosos que há. Nunca passam de moda. É raríssimo que uma montanha mude de lugar. É raríssimo que um mar se esvazie de água. Nós só escrevemos coisas eternas.
- Mas os vulcões extintos podem despertar - interrompeu o principezinho. - E o que é que" efémero" quer dizer?
- Para nós, os vulcões estarem extintos ou em actividade é exactamente a mesma coisa. Para nós, o que conta é a montanha. Essa não muda.
- Mas o que é que "efémero" quer dizer? - voltou a repetir o principezinho que, uma vez que a fizesse, nunca em dias da sua vida desistira de uma pergunta.
- Quer dizer que "se encontra ameaçado de desaparição a curto prazo".
- Então a minha flor está "ameaçada de desaparição a curto prazo"?
- Evidentemente!
"A minha flor é efémera", pensou o principezinho, "e só tem quatro espinhos para se defender do mundo inteiro. E eu deixei-a lá sozinha!"
Foi a primeira vez que se arrependeu de ter partido. Mas logo recobrou o ânimo:
- E agora o que é que me aconselha a visitar?
- O planeta Terra - respondeu o geógrafo. - É um planeta com boa reputação...
E o principezinho foi-se embora, sempre a pensar na sua flor.