Capítulo 18
Às vezes, quando se quer ter graça , dizem-se algumas mentiras. Devo confessar que não foi lá muito honesto falar-vos dos acendedores de candeeiros. Quem não conheça o planeta, arrisca a ficar com uma ideia errada dele. Na realidade, só muito pouco espaço da Terra é que é ocupado pelos homens. Se os dois biliões de habitantes da Terra se pusessem de pé, muito juntinhos uns ao lado dos outros, como num comício , cabiam todos, à vontade, numa praça de vinte milhas de comprimento por vinte milhas de largura. Bem amontoada , a Humanidade cabia inteirinha na mais pequena ilhota do Oceano Pacífico .
Claro que as pessoas grandes não vão acreditar. Elas pensam que ocupam muito espaço. Julgam-se tão grandes como embondeiros . Portanto, o melhor é vocês dizerem-lhes para fazerem as contas .
As pessoas grandes adoram números e vão ficar todas contentes. Mas vocês, vocês que confiam em mim,. não percam tempo repetir tudo. Eu já fiz as contas...
Uma vez na Terra, o principezinho ficou muito admirado por não ver ninguém. Já estava com medo de se ter enganado de planeta, quando reparou num anel cor de luar a mexer na areia.
- Olá, boa noite! - lançou o principezinho para os ares, a ver o que aquilo dava.
- Olá, boa noite! - disse a serpente .
- Em que planeta é que eu vim cair? - perguntou o principezinho.
- Na Terra, em África - respondeu a serpente.
- Ah!... E então na Terra não há ninguém?
- Aquilo é o deserto . Nos desertos não há ninguém. A Terra é muito grande - disse a serpente.
O principezinho sentou-se numa pedra e levantou os olhos para o céu:
- Se calhar, as estrelas só estão iluminadas para que, um dia, cada um de nós possa encontrar a sua. Olha para o meu planeta. Está mesmo aqui por cima… Mas está tão longe!...
- O teu planeta é muito bonito - disse a serpente. - Mas o que é que tu vieste cá fazer?
- Foi por causa de uma flor - disse o principezinho.
- Ah! - disse a serpente.
E ambos se calaram.
- Onde é que estão os homens? - acabou finalmente por perguntar o principezinho.- No deserto está-se um bocado sozinho…
- Também se está sozinho ao pé dos homens – disse a serpente.
O principezinho observou-a durante muito tempo e disse:
- Que bicho mais curioso que tu me saíste! Fininha como um dedo...
- Mas sou mais poderosa do que o dedo de um rei - disse a serpente.
O principezinho sorriu:
- Não és nada... Nem sequer tens patas ... Nem sequer podes viajar…
- Mas posso levar-te mais longe do que um navio - disse a serpente.
Enroscou-se à volta do tornozelo do principezinho, como uma pulseira de ouro, e continuou:
- Quando toco em alguém, devolvo-o imediatamente à terra de onde veio. Mas tu és puro e vieste de uma estrela...
O principezinho não respondeu.
- Tenho dó de ti , assim, tão fraquinho, nesta Terra toda de granito . Um dia, se tiveres muitas saudades do teu planeta, eu posso ajudar-te. Posso...
- Oh! Escusas de continuar que eu já percebi tudo! - disse o principezinho. - Mas porque é que só falas por enigmas ?
- Resolvo-os a todos - disse a serpente.
E ambos se calaram.