Capítulo 15
O quinto planeta era extremamente curioso. Era o mais pequeno de todos. Só lá havia espaço, à justa, para um candeeiro e um acendedor de candeeiros.
Por muitas voltas que desse à cabeça, o principezinho não conseguia perceber pata que é que podiam servir, algures no espaço, num planeta que não tinha nem casas nem população, um candeeiro e um acendedor de candeeiros. Mas disse para consigo:
"Este homem é capaz de ser absurdo. Mas é bem menos absurdo do que o rei, do que o vaidoso, do que o homem de negócios e do que o bêbado. Ao menos o trabalho dele tem um sentido.
Quando acende o candeeiro, é como se fizesse nascer mais uma estrela. Ou então mais uma flor. Quando apaga o candeeiro, é o mesmo que pôr a flor ou a estrela a dormir. É uma ocupação muito bonita. E porque é bonita, é útil.
Quando chegou ao planeta, cumprimentou respeitosamente o acendedor:
- Olá, bom dia! Porque é que apagaste mesmo agora o teu candeeiro?
- Obedeço a instruções - respondeu o acendedor. - Olá, bom dia!
- Instruções? O que é isso?
- São instruções de apagar o candeeiro. Boa noite!
E voltou a acendê-lo.
- Mas porque é que o voltaste a acender?
- São as instruções que tenho - respondeu o acendedor.
- Não percebo - disse o principezinho.
- Não há nada que perceber. Instruções são instruções. Bom dia!
E apagou o candeeiro.
Depois enxugou a testa com um lenço aos quadrados vermelhos.
- Tenho uma profissão terrível. Dantes, ainda vá lá... Apagava o candeeiro de manhã e acendia-o à noite. Tinha o resto do dia para descansar e o resto da noite para dormir...
- Mas as instruções mudaram?
- Não, não mudaram - disse o acendedor. - E essa é precisamente a minha desgraça! Imagina que, de ano para ano, o planeta gira cada vez mais depressa e as instruções nunca mudam!
- E depois? - perguntou o principezinho.
- Depois, agora, que ele dá uma volta num minuto, eu não tenho um segundo de descanso. Acendo-o e apago-o uma vez por minuto!
- Que engraçado! Então aqui os dias duram um minuto?
- Não vejo onde é que está a graça - respondeu o acendedor. - Nós dois, por exemplo, já aqui estamos a falar há um mês.
- Um mês?
- Exactamente, um mês. Ou seja, trinta minutos. Ou seja, trinta dias. Boa noite!
E voltou a acender o candeeiro.
O principezinho olhou para ele e sentiu que gostava daquele acendedor tão fiel às instruções que tinha. Lembrou-se dos pores do Sol que, dantes, ele próprio ia procurar, puxando a sua cadeira. Quis ajudar o amigo:
- Sabes... Sei de uma maneira de tu poderes descansar sempre que te apetecer...
- Está-me sempre a apetecer descansar - disse o acendedor. Porque se pode ser fiel e preguiçoso ao mesmo tempo.
O principezinho prosseguiu:
- O teu planeta é tão pequenino que, com três passadas, lhe dás a volta. Portanto, basta pores-te a andar devagarinho e ficas sempre ao sol. Assim, quando quiseres descansar, começas a andar... e o dia dura tanto tempo quanto tu quiseres.
- Não me adianta lá grande coisa - disse o acendedor.
-Do que eu mais gosto na vida é de dormir!
- Já é pouca sorte. - disse o principezinho.
- Já é pouca sorte! - disse o acendedor. - Bom dia!
E apagou o candeeiro.
"Este", pensou o principezinho enquanto continuava a sua viagem, "este seria alvo do desprezo de todos os outros: do rei, do vaidoso, do bêbedo, do homem de negócios. E, no entanto,... é o único que eu não acho ridículo. Talvez por se interessar por mais alguma coisa para além de si próprio. "
Cheio de pena, deu um suspiro e ainda pensou:
"Este é o único que podia ser meu amigo. Mas o planeta dele mesmo muito pequeno. Não há lugar para dois... "
Mas o que o principezinho não ousava confessar a si próprio que, acima de tudo, tinha pena de não poder aproveitar os mil e quatrocentos pores do Sol em vinte e quatro horas daquele planeta abençoado!