Capítulo 25
Íamos no oitavo dia da minha avaria no deserto e, enquanto o principezinho me contava a história do vendedor, eu tinha bebido a última gota da minha provisão de água.
- Ah! - disse eu para o principezinho. - É bem bonito, isso que tu me contas! Mas eu é que ainda não consertei o meu avião e já não tenho nada que beber! Olha que eu é que havia de ficar bem contente se me pudesse pôr a andar muito de mansinho à procura de uma fonte!
- A minha amiga raposa... - começou ele.
- Ó meu rico menino, agora já não se trata de raposas, nem de meias raposas...
- Porquê?
- Porque vamos morrer de sede(我们要渴死了)...
Não percebeu o meu raciocínio e respondeu:
- É bom ter um amigo, mesmo quando se está para morrer. Eu cá estou bem contente por ter tido uma amiga raposa...
"Não tem a noção do perigo", pensei eu. "Nunca tem fome nem sede. Basta-lhe um bocadinho de Sol(有点儿阳光他就满足了)... "
Mas o principezinho olhou para mim e respondeu aos meus pensamentos:
- Também eu tenho sede... Vamos à procura de um poço ...
Fiz um gesto de impotência : é perfeitamente absurdo uma pessoa pôr-se assim, às cegas , à procura de um poço na imensidão do deserto. - Mas lá nos pusemos em marcha .
Depois de termos caminhado horas e horas em silêncio, fez-se de noite e as estrelas começaram a brilhar. Via-as como em sonhos porque estava com uma ponta de febre por causa da sede.
As palavras do principezinho bailavam -me na memória .
- Então tu também tens sede? - perguntei eu.
Mas ele não respondeu à minha pergunta. Disse simplesmente:
- A água também pode ser boa para o coração...
Não percebi a resposta dele, mas calei-me... Já sabia que não valia a pena desatar a fazer-lhe mais perguntas.
O principezinho estava cansado. Sentou-se. Eu sentei-me ao seu lado. Primeiro, ficou uma data de tempo calado, mas depois disse:
- As estrelas são bonitas por causa de uma flor que não se vê...
Eu respondi "Claro!" e pus-me a observar, calado, as pregas da areia ao luar.
- O deserto é bonito - disse o principezinho.
E era verdade. Sempre gostei do deserto. Uma pessoa senta-se numa duna . Não vê nada. Não ouve nada. E, no entanto, há qualquer coisa a brilhar em silêncio(有一种说不出的东西在默默地放着光).
- O que torna o deserto bonito - disse o principezinho – é haver um poço escondido em qualquer parte…
De repente, e para grande espanto meu, percebi o que era aquele brilho misterioso da areia. Quando era pequeno, vivia numa casa antiga e dizia-se que havia um tesouro lá escondido. Claro que nunca ninguém o conseguiu descobrir e talvez nunca ninguém se tivesse sequer dado ao trabalho de o procurar. Mas o facto é que ele encantava a casa toda. A minha casa tinha um segredo escondido no fundo do coração…
- Tens razão - disse eu para o principezinho. - Casas, estrelas ou desertos, é tudo a mesma coisa: o que lhes dá beleza nunca se vê!
- Fico bem contente por teres a mesma opinião que a minha raposa...
Ao ver que o principezinho estava cheio de sono, peguei-lhe ao colo e voltei .a deitar-me ao caminho. Sentia-me comovido . Parecia-me que levava ao colo um tesouro muito frágil . Parecia-me mesmo que não havia nada mais frágil à face da Terra. Contemplava , à luz do luar(借着月光), aquele rostinho pálido , aqueles olhos fechados, aquelas mechas de cabelo a tremer ao vento e pensava:
“O que eu estou a ver não é senão uma casca . O mais importante é invisível…”
Ao ver desenhar-se-lhe nos lábios entreabertos um vago sorriso, ainda pensei: "O que me comove tanto neste principezinho adormecido é a sua fidelidade a uma flor, é a imagem de uma rosa que, mesmo a dormir, brilha dentro dele como a chama de uma vela." E ele pareceu-me ainda mais frágil. Porque, às velas, é preciso protegê-las: mal lhes dá o vento, apagam-se.
E, sempre assim a andar, acabei por descobrir o poço ao nascer do dia .