Até agora aquela música me dava uma tristeza que eu não sabia compreender. Totóca me deu um puxão. Eu acordei.
— Que é que você tem, Zezé?
— Nada. Tava cantando.
— Cantando?
— É.
— Então eu devo estar ficando surdo.
Será que ele não sabia que se podia cantar para dentro?
Fiquei calado. Se não sabia eu não ensinava.
Tínhamos chegado na beira da estrada Rio-São Paulo. Passava tudo nela. Caminhão, automóvel, carroça e bicicleta.
— Olhe, Zezé, isso é importante. A gente(指 我们) primeiro olha bem. Olha para um lado e para outro. Agora. Atravessamos correndo a estrada.
— Teve medo?
Bem que tive mas fiz não com a cabeça.
— Nós vamos atravessar de novo juntos. Depois quero ver se você aprendeu.
Voltamos.
— Agora você sozinho. Nada de medo que você está ficando um homenzinho.
Meu coração acelerou.
— Agora. Vai.
Meti o pé e quase não respirava. Esperei um pedaço e ele deu o sinal para que eu voltasse.
— Pela primeira vez, você foi muito bem. Mas esqueceu uma coisa. Tem que olhar para os dois lados para ver se vem carro. Nem toda hora eu vou ficar aqui para lhe dar o sinal. Na volta, a gente treina mais. Agora vamos que eu vou mostrar uma coisa para você.
Agarrou a mão e saímos novamente devagar. Eu estava impressionado com uma conversa.
— Totóca.
— Que é?
— Idade da razão pesa?
— Que besteira é essa?
— Tio Edmundo quem falou. Disse que eu era “precoce” e que ia entrar logo na idade da razão. E eu não sinto diferença.
— Tio Edmundo é um bobo. Vive metendo coisas na sua cabeça.
— Ele não é bobo. Ele é sábio. E quando eu crescer quero ser sábio e poeta e usar gravata de laço. Um dia eu vou tirar retrato de gravata de laço.
— Por que gravata de laço?
— Porque ninguém é poeta sem gravata de laço. Quando Tio Edmundo me mostra retrato de poeta na revista, todos têm gravata de laço.
— Zezé, deixe de acreditar em tudo que ele fala pra você. Tio Edmundo é meio trongola. Meio mentiroso.
— Então ele é filho da puta?
— Olhe que você já apanhou na boca de tanto dizer palavrão; Tio Edmundo não é isso. Eu falei trongola. Meio maluco.
— Você falou que ele era mentiroso.
— Uma coisa nada tem a ver com a outra.
— Tem, sim. Noutro dia Papai conversava com seu Severino, aquele que joga escopa e manilha com ele e falou assim de seu Labonne: “o filho da puta do velho mente pra burro"... E ninguém bateu na boca dele.
— Gente grande pode dizer, que não faz mal.
Fizemos uma pausa.
一直到现在,那段曲调还是让我满怀说不出的悲伤。托托卡扯了我以下,我回过神来。
“你怎么啦,泽泽?“
“没事,我在唱歌。”
“唱歌?”
“对啊。”
“那我一定是耳朵有问题了。”
我不说话。难道他不知道可以在心里面唱歌吗?
我们来到了里约——圣保罗公路上,上面开着各式各样的车子:卡车、轿车、货车、脚踏车。
“听好,泽泽,这很重要。首先我们要仔细看:先看这一边,再看那一边——就是现在,跑!”我们跑过马路。
“你害怕吗?”
我很怕,但是我摇了摇头。
“我们再练习一次。然后我要看你是不是学会了。”我们走回对面。
“现在你自己过。别害怕,因为你是小大人咯。”
我的心跳加速。
“好,冲!”
我冲到几乎喘不过气来。我停了一下,等托托卡打手势我才回去。
“以第一次来说,你做得很好咯。但是你忘了一件事:你要先看看左右两边有没有车子,我不会永远在这儿打手势给你看。回家的路上我们再练习一下。现在走把锕,我要带你去看一样东西。”他牵起我的手,我们慢慢走着。我想着要说的话。
“托托卡。”
“什么事?”
“你知道什么是懂事的年纪吗?”
“你在讲什么鬼话?”
“艾德孟多伯伯说的。他说我很“早熟”,很快就会长到懂事的年纪。我搞不清楚那是怎么回事。”
“艾德孟多伯伯真蠢,老是往你脑袋里面乱塞东西。”
“他才不蠢,他很聪明。我要当诗人,还要打领结,以后我要拍一张戴着领结的照片。”
“为什么要戴领结?”
“因为没有哪个诗人不打领结的。艾德孟多伯伯给我看杂志上的诗人照片,他们全都打了领结。”
“泽泽,不要他说什么你都信。艾德孟多伯伯有点疯疯癫癫的,他有时候会乱讲话。”
“那他就是狗娘养的咯?”
“你看,你就是因为爱说脏话才会被赏耳光。艾德孟多伯伯不是你说的那样啦,我只是说他有点疯疯癫癫的。”
“你说他会乱讲话。”
“这件事和那件事又没有关系。”
“有关系。前几天爸爸在跟凡塞维诺先生说话,就是和他玩纸牌的哪个人。讲到拉邦先生,爸爸说:“那个狗娘养的什么都乱讲话。”也没有人打他嘴巴。”
“大人说就没关系。”
对话暂停。